Mania
Cipoesia, ô mania,
vai sempre dando, onde dá.
Seca estala, tempo esfria,
fogo pega matagal:
Será que me curo
dessas flores, cipoal?
Sob setembro repousa
a semente do meu mal.
Novembro chove sobre o caixão.
Dezembro o filho parece o pai.
Poesia pelas tíbias
e os joelhos subirá.
Flor laranja que me brota
da orelha, e não devia:
Mania inconveniente
das abelhas, me beijar -
Mel fermenta em minha cuca,
urso venha se fartar.
Samambaias
Doces cabelos na sombra.
Oculto entre as folhas, o mel.
Samambaias amigas do rio,
primeiras dentre todas as plantas -
amor das abelhas no cio.
Cantando doces melodias,
cantando para encantar.
Mas precisa molhar sempre, sempre,
para o amor não faltar -
samambaias, estou tão contente!
Abondo e Marimbelha
Marimbelha quer casar
tá cheia de pó de flor
Abondo tem muito amor
pra dar
Abondo é professor
professor particular
aprendeu com o Beija-flor
amar
Jandira
I.
Mel de mim.
Toma mel de mim.
Eu o fiz da flor,
eu o fiz da flor
que se fez de sol.
Mel de mim.
Urso marrom
dança pra mim,
sou Jandira, a Lambesol -
mel.
II.
Mãe dos bichos,
tantas tetas -
são mamões
que ela fez de sol.
Mãe dos bichos
que bebem água
nestes regos
de terra mãe.
Mãe dos bichos,
tantas gretas
de irados zangões
e mel.
Cobertor, tapete voador
Há trinta anos tenho este cobertor
que bisa me deu.
Cobertor, tapete voador
Deito, me cubro e voo.
O cantor
Galo cantou a meia noite
e o cantor dormiu
E de manhã, galo cantou
e o cantor se acordou
Não era o mesmo cantor
Nunca dormiu, nunca acordou
Galo cantou
Iguaria
Há um Deus que nos observa
como à carne macia?
A ovelha fica tenra
mesmo comendo porcaria.
Com esta vida mais ou menos
tenho cara de iguaria?
Deus me chupe até o osso
é o que gostaria.
Artista
Secreção de artista, salutar
para quem usa moderadamente.
Fiel ao adágio familiar:
remédio, veneno - questão de dose.
Canto da uva para Jussara
Pinto teu manto
com tanto prazer,
ó Jussara.
Verde obsessivo.
Fermento neste astro barril -
cada bactério me melhora.
Um canto tão intenso
logo evola.
Jurema
Roça em Jaboticatubas
também pitangas dá.
Quem sabe eu não chupe
amora por lá?
Cipó, raro rio limpo,
ali nu sei nadar.
Quem sabe me morde
piranha por lá?
Em qualquer bosquinhozinho
tatu, quati, gambá.
Quem sabe me apanhe
Jurema por lá?
Manoel Bandeirico
Qual Manoel Bandeira, passarinho de pouco peito
Faz só um trico-trico de fundo
será profundo?
Encantará alguém, quiçá?
Alguém que esteja cansado que nem eu
de tanto news, de tanto fake news
e procure ouvir o que estivera sempre ali
o que estivera sempre ali, o trico-trico